Café tem História…

Se você gosta de História – esta, com letra maiúscula – sente-se numa poltrona confortável, deixe as pernas esticadas e desligue os aparelhos eletrônicos para evitar distrações. Se você gosta de café, prepare uma boa caneca do seu grão favorito – o desse mês do Have a Coffee está especial. E se você gosta dos dois, aí vai uma dica de leitura: “A História do Café”, o livro que é uma verdadeira aula sobre as origens da nossa bebida preferida.

 

A história de Ana Luiza Martins

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Para contar a história do café, é preciso antes contar a história de quem está por trás de um dos melhores livros sobre o assunto no Brasil. Ana Luiza Martins nasceu em Marília, no interior de São Paulo. Da mesma forma com que a cidade cresceu em torno do café, assim foi o desenvolvimento dela também: cercada por grandes fazendas, lavouras produtivas e torrefações que espalhavam o cheiro doce dos grãos torrados.

Graças ao café, Ana Luiza teve condições de sair do interior do estado e ir até a capital para complementar seus estudos. Formou-se em História na USP. Mais tarde, já na Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo, notou que podia contar a história do estado a partir do desenvolvimento do ciclo cafeeiro.

 

“Percebia que tudo desembocava no café. Os dez presidentes paulistas que o Brasil teve ao longo da República eram ligados a famílias cafeicultoras. Até mesmo a Semana de Arte Moderna de 1922 tinha forte presença do café, já que seus participantes eram ligados a famílias cafeeiras. Tarsila do Amaral, que posteriormente se uniu ao grupo, era filha de um poderoso fazendeiro de café.”

– explica Ana Luiza.

 

São Paulo e o café

Naturalmente, a ligação intrínseca entre São Paulo e o café começou a ser estudada com mais afinco. Autora de alguns livros sobre a República, foi questão de tempo até que um editor procurasse Ana Luiza para que ela desenvolvesse o tema, em um trabalho mais voltado para a trajetória do café. A ideia era falar para o grande público, numa linguagem mais didática e acessível. A historiadora procurou edições que falassem do assunto, mas achou pouco material:

 

“Existe uma coleção raríssima de onze volumes, escrita por Afonso Taunay, chamada “História do Café no Brasil”, publicada em 1929. No entanto, a linguagem é complexa, voltada para historiadores e pesquisadores da área.”

 

A ideia dá frutos

Após um ano visitando muitas fazendas de café, das mais primitivas até as que investem pesado em infraestrutura, Ana Luiza começou a entender com mais profundidade toda a cadeia cafeeira do país. Era o insumo que ela precisava para florescer um livro acessível, conciso e divertido sobre os caminhos que o café percorreu até os dias atuais.

 

As mulheres e a lavoura

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Um dos assuntos abordados por Ana Luiza em seu livro vem chamando a atenção dos leitores. As reminiscências da infância, quando observava ao longe os lenços brancos das mulheres colhendo o café na lavoura, foram o ponto de partida para que a presença feminina no ciclo cafeeiro fosse revisitada, ganhando um novo olhar.

 

“As mulheres ficaram à sombra da História do café durante todo esse tempo. No entanto, elas foram decisivas para o desenvolvimento da atividade no Brasil. Até mesmo as baronesas do café, que eram estereotipadas como frívolas, foram muito importantes. Enquanto os maridos se ausentavam para tratar de negócios na cidade, eram elas que cuidavam da lavoura, sem descuidar da casa.”

– conta Ana Luiza.

 

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Atualmente, as mulheres já tomam a frente e se envolvem no mundo do café. Muitas empresárias tocam as lavouras da família, outras abrem negócios prósperos como cafeterias e consultorias técnicas. A quantidade de estudos e pesquisas assinados por mulheres cresceu exponencialmente ao longo das últimas décadas. Faltava, então, o reconhecimento àquelas que, com suas mãos delicadas, faziam a derriça com graça e leveza, jogando os grãos para o alto para separá-los de folhas e impurezas.

 

Quer ouvir mais sobre isso?

Esse capítulo da História é tão rico e interessante, que virou assunto para o podcast COFFEA, da jornalista Kelly Stein. Vale a pena ouvir o programa para entender melhor a reflexão que Ana Luiza propõe sobre o papel da mulher no ciclo cafeeiro.

 

Boa leitura. Bom café.

 

Eduardo Frota-perfil

Eduardo Frota é jornalista, barista e apaixonado por café